Diário de Produto - Dia 8

Esta é uma série onde documento a jornada de fazer um produto dar lucro - ou falhar miseravelmente. Em todo caso, nos divertiremos juntos.

No diário anterior eu mostrei várias mudanças muito expressivas em alguns números absolutos. O gráfico abaixo mostra o efeito drástico que ocorreu no número de usuários que experimentam utilizar o produto por semana:

Número de usuários no App por semana

O patamar anterior estava ente 100 e 200 usuários/semana, na mudança passou de 1.000, despencou pro feriado de Natal e Ano Novo mas ainda assim ficando ali pelos 400 e agora está flutuando perto dos 1.300.

Só relembrando que o principal fator aqui foi a criação de um uso anônimo e grátis para qualquer pessoa que chegue no produto. Então a subida era esperada, e o patamar está dentro do previsto, uma vez que quase todo o tráfego vem do blog que apoia o produto e eu já sabia quantas pessoas clicam nos posts do blog para abrir o produto. Até fizemos alguns ajustes cosméticos na UX do blog pra tentar subir mais esse número, o efeito foi o do gráfico abaixo:

CTR blog > App por semana

Pode não ser uma mudança tão visível, mas tirando um pico no meio de setembro e um buraco em novembro dá pra distinguir uma tendência por volta de 12.5% de CTR (click-through rate) do link no blog que leva ao produto, e desde as mudanças em dezembro esse número flutuando mais perto de 14%. Uma variação de ~12%, que se seguir se confirmando é expressiva (e já me deu algumas ideias pra tentar puxar mais pra cima).

Então estamos conseguindo jogar muito mais tráfego pro produto, a grande e óbvia pergunta agora é: Como isso refletiu nas vendas?

Pois é, não refletiu.

Como a taxa de conversão é historicamente baixa, o gráfico é meio “nervoso” semana a semana, então mudanças sutis não são perceptíveis. O que podemos afirmar é que mudança brusca não houve. Com esse dado debaixo do braço parti pra uma estratégia que precisou de um exercício político: Testar um outro meio de pagamento que me permitiria um processo mais padrão, com um form pedindo dados de cartão de crédito e pronto.

No diário do dia 4 eu expliquei que isso geraria um problema complicado na contabilidade, a princípio tinha abandonado a ideia pra perseguir outras coisas, mas me muni do argumento mais simples possível: “Sabendo que isso te atrapalha, o que podemos combinar pra gente poder testar um pagamento novo por 1 ou 2 meses só pra vermos o resultado?”

Um dos fatores era a dificuldade de devolução. Isso eu consigo resolver no nível de produto: O usuário já tinha trial grátis de tudo que o produto oferece por 7 dias, não havia mais argumento válido pra pedir devolução de dinheiro. Então não faríamos mais devoluções e é isso. Também perguntei quantas devoluções fazemos por mês, a resposta foi algo como “A última foi em outubro”… Era coisa de 2 ou 3 por ano. Risco baixo. Checamos com o jurídico, tudo certo, o pessoal do financeiro ficou mais tranquilo. O trabalho manual deles aumentaria mas era algo navegável.

Implementamos então um sistema global de pagamento via cartão de crédito. Redesenhei a página de pagamento pra incluir um discurso de venda explicando melhor o que o produto oferece e o formulário já com o preço único de assinatura aparecendo.

Uma boa trabalheira, o resultado foi esse (preciso ocultar os números aqui):

Assinaturas por semana

Como instalei o mixpanel em setembro só tenho os números a partir daí. Tem lá um pico, depois um viés de queda, e a partir das mudanças em janeiro vemos o mesmo patamar de outubro, com uma levíssima tendência de crescimento. Veremos como fecha fevereiro.

Quando comparamos assinaturas e cancelamentos, o cenário é este:

Assinaturas (azul) x Cancelamentos (laranja) semanais

No último trimestre de 2024 as linhas de cancelamento e de compras estavam entrelaçadas, com o churn até ganhando de novos usuários em alguns pontos. A partir de janeiro vemos um afastamento, mas que se deve mais a uma queda do churn do que ao aumento das vendas. Como só agora em fevereiro estamos trabalhando mudanças na UX para melhorar o produto, o churn pode voltar a subir a qualquer momento encostando de novo nas assinaturas.

Porém fica pior: Com o aumento do uso nossa fatura de infra veio inflacionada em 100%, o que causou uma sala de emergência pra ver há opções pra não derreter nosso caixa.

Conseguiremos salvar esse produto antes dos donos do dinheiro desistirem de ficar no prejuízo? Aguardem os próximos capítulos.

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