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Atividades de uma pessoa de Produto - Ideação
Ideação é muitas vezes confundida com uma tarefa criativa. Nem sempre isso é verdade. Criatividade ajuda qualquer processo, mas ideação pode e deve ter método.
É a seleção de ideias pro backlog. Este termo talvez seja a maior fonte de confusão em relação à carreira de Produto. Muita gente entra na área achando que será uma espécie de gênio residente que terá todas as ideias.
Ter ideias não é proibido, claro, mas que fique claro: A ideia da pessoa de Produto tem exatamente o mesmo valor da ideia de qualquer outra pessoa. Do CEO ao Engenheiro, do Vendedor ao Faxineiro, qualquer pessoa que tiver uma ideia merece ser ouvida. Ideias vêm do misto de conhecimento e inspiração, e nenhum dos dois garante resultado. O papel da área de Produto não é ter monopólio das ideias, mas sim estar permanentemente aberta a acolher todas as ideias com igual entusiasmo.
(Ao escrever essa frase me toquei da referência à série “Severance"/”Ruptura", quem assistiu sabe, e peguei a foto que ilustra este texto. Se você gosta de entretenimento desafiador pode parar de ler isso aqui e vai lá assistir, eu espero. Um bom resumo do que esperar é: “E se alguém escrevesse uma distopia corporativa baseada em posts do Linkedin?”)
Isso requer técnica e intencionalidade. É cultural no Brasil e alguns outros países por onde passei que uma ideia seja recebida com uma crítica tentando estabelecer a validade. Já vi reuniões de brainstorming onde cada sugestão gerava um verdadeiro fuzilamento dos outros presentes. É uma dinâmica onde não se busca a melhor ideia, mas sim a que agrada a quem tem mais poder na sala. A aparência é de reunião técnica, mas o resultado é essencialmente político.
A primeira coisa que quero nas minhas áreas de Produto é uma abundância de novas ideias. Quanto mais, mais provável eu encontrar alguma coisa que mude os ponteiros do negócio. E é isso que faz uma ideia ser “melhor”. Ao invés da sensação subjetiva de achar que algo vai dar certo, quem vai me dizer o que é bom ou não é o público lá fora. Afinal, é pra eles que estou construindo. Então vamos repetir:
Eu não sou o público do meu produto. Nem os stakeholders. Nem meu CEO.
Mesmo que você seja usuário, não é o público típico. Sabe de coisa demais, tem viés demais. O público está lá fora. Ideia só passa a ser boa quando eles têm a chance de experimentarem e reagirem, e eu medir os comportamentos deles concluindo se gostaram ou não.
Um desdobramento: Em entrevistas de emprego que fiz testaram se eu tinha boas ideias pra algum produto digital. Isso pode revelar quais são os candidatos mais criativos, pode ser algo que interessa à empresa, mas é irrelevante pro cargo. Muito mais importante que ter ideias é incentivar que as pessoas ao redor também as tenham e sintam abertura pra trazê-las.
Como então gerar essa abertura? Resistindo à tentação de concluir algo sobre a ideia apresentada. Haverá outro momento pra isso. Seja acolhedor, demonstre interesse fazendo perguntas. Por que a pessoa acha que aquilo é interessante? Qual necessidade ou problema do usuário poderia solucionar? Qual resultado acha que aconteceria? Como exatamente implementaria? Em qual tela? Em que lugar? O intuito não é fazer a pessoa documentar por nós, mas sim entender o quão profundamente pensou naquilo, e extrair da sua cabeça cada detalhe do que pensou.
Não retruque com sua opinião, não diga que aquilo é complexo demais pra engenharia, ou que não tem hoje espaço. Separe a captação de escopo da discussão de prioridade ou prazo, sempre. Haverá um momento pra essas coisas mais tarde.
Após esse exercício, responder com “Deixa eu ver se entendi. A ideia então seria…” repetindo tudo de volta pro interlocutor até concordar com 100%. É um exercício de empatia, não de co-construção. Um ambiente onde as pessoas se sentem livres para dividir o que passa na cabeça delas, e que ajuda a estruturar esses pensamentos, é um ambiente criativo e rico em possibilidades. Esse é o início de uma área de Produto efetiva.
Então o que estou dizendo? Que toda e qualquer ideia será executada e lançada pro público? De jeito nenhum. Priorização é o superpoder da área de Produto, principal motivo dela existir, e a próxima atividade que vou dissecar na semana que vem.
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